segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Desmistificando o bullying



Popularizado na primeira década dos anos 2000, o bullying, de uma forma mais simplificada, é a promoção da violência gratuita, tanto física, quanto verbal.  Ao contrário do que muitos pensam, ocorre sim na vida adulta, causando traumas com maior ou menor gravidade e por vezes até demissões do local de trabalho.
Para compreender melhor essa antiga prática que, através do advento da internet e o crescimento das redes sociais, veio à tona com mais força, tornando-se tema de estudos científicos, por exemplo, o blog entrevista a professora Gisleine Lourenço, psicóloga especialista em Psicologia Escolar e mestre em Ciências Médicas.
 Confira agora, como funciona o bullying e como essa ‘atitude’ se manifesta.

1. O que é bullying e o que significa o nome?
A expressão bullying deriva do inglês bully, que significa que em um determinado grupo – especialmente em alunos de uma mesma sala de aula, de uma mesma escola, geralmente os mais fortes e altos, com conduta de liderança – elegem algum ou alguns dos colegas, muito comumente os mais tímidos e frágeis, para utilizá-los como uma espécie de “bode expiatório”, maltratá-los e humilhá-los. Isso está de acordo com o vocábulo bully, que significa usar a superioridade física, intelectual ou de liderança para intimidar o outro, tomado-o como vítima. Assim, é muito provável que a expressão bullying provenha do inglês bull, que significa touro – aqui, no sentido de “machão”-, tal como se sentem, ou melhor, imaginam ser – como recurso inconsciente de negar a sua fragilidade –  “valentões” que praticam bullying, indiferentes às graves conseqüências que provocam.

2. O que faz com que as crianças tenham essa facilidade em colocar apelidos nos colegas e não aceitar a diferença?
Por volta dos três anos, as crianças já acrescentaram milhares de palavras ao seu vocabulário e começam a descobrir o prazer em brincar com o outro e se comunicar. O egocentrismo começa a sair de cena e começa a socialização. Nesta fase, o comportamento agressivo intencional, ainda aparece esporadicamente e via de regra, não apresentam uma continuidade. Já aos quatro, cinco e seis anos, identificamos alguns comportamentos de discriminação que podem ter, repetidamente, o mesmo alvo. Aparecem os conflitos, “panelinhas”, provocações e humilhações. É neste ponto os pais e educadores devem estar atentos, a fim de inibir esse comportamento antes que ele se instale e seja mais difícil de eliminá-lo. Em geral, as crianças oferecem ou recebem apelido devido a uma característica única, uma expressão de afeto ou até mesmo para facilitar a pronuncia do nome, ou seja, sem intenção de agredir! Um caso típico, citado em artigo de Antônio Gois e Armando Pereira Filho, para a Folha de São Paulo, é o de um menino de 4 anos que era tímido e falava pouco. Os coleguinhas e a própria professora “brincavam” dizendo que ele havia perdido a língua. Isso causou um bloqueio na fala e desenvolvimento da linguagem da criança. Bullying é uma subcategoria do comportamento agressivo que ocorre entre os pares, é uma crueldade sistemática, intencional, voltada diretamente para alguém, por parte de uma ou mais pessoas com a intenção de obter poder sobre o outro ao infligir regularmente sofrimento psicológico ou físico. Os diferentes tipos de bullying incluem físico, verbal, relacional e eletrônico. Portanto, bullying não é um comentário ocasional de alguém próximo, uma discórdia no ambiente de trabalho, briga de crianças durante uma brincadeira, lições aprendidas nas rivalidades entre irmãos, ou a solução de conflitos com colegas.

3. O bullying acontece também na fase adulta? De que maneira?
Sim. O bullying pode ocorrer em qualquer etapa do ciclo vital.  Em qualquer contexto no qual seres humanos interajam, tais como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos, em locais de trabalho, na política. Em um conflito normal entre pares os envolvidos fornecem os motivos da discórdia, se desculpam, negociam entre si para satisfazer suas necessidades e não persiste no comportamento para conseguir as coisas ao seu próprio modo. Agressões pontuais e as que não envolvem desequilíbrio de forças não são bullying! Existem três elementos cruciais que caracterizam o bullying: a repetição, o prejuízo e a desigualdade de poder!