Confira a terceira e última resposta da série “Tecnologias
e Educação”, com Cleber Gibbon Ratto.
Quais os desafios da educação a partir da realidade
das tecnologias?
O grande desafio continua sendo o de sempre: buscar
construir conhecimentos que realmente façam alguma diferença na nossa vida. E
não me refiro apenas a conhecimentos que "sirvam" de modo prático,
utilitário e rápido, como muitos costumam buscar nos dias de hoje. Muitas
coisas que aparentemente não tem uma utilidade imediata fazem grande diferença
na vida! Não podemos reduzir tudo ao valor de utilidade. Quando me refiro a
"fazer alguma diferença" estou falando de saberes que possam
realmente transformar nossas formas de viver, para melhor! É urgente
reinventarmos nossas formas de conviver, criando maneiras de estar com os outros
que realmente nos façam mais felizes. Vivemos num tempo de excessiva pressa.
Tudo é feito no capitalismo contemporâneo para vivermos apressados, urgentes,
acelerados, ansiosos e culpados por não atingirmos o "ideal". Mas o
"ideal" simplesmente não existe! O grande desafio e diversão do mundo
atual é aprendermos a viver com o "possível" e não correndo
angustiados atrás do ideal. As tecnologias podem ser nossas parceiras nessa
busca por viver uma vida que faça mais sentido, mas também podem ser armadilhas
que apenas nos fazem ficar mais ansiosos ou vazios. E a educação tem esse
grande desafio de fazer uso das tecnologias de modo criativo, tirando delas o
que de melhor podem nos oferecer para viver uma vida com mais sentido e valor.
As tecnologias na educação não são boas ou más por si mesmas. Elas dependem
diretamente do uso que fazemos delas, dando um valor de ampliação das nossas
possibilidades de aprender e de conviver melhor ou reduzindo-as a meros
recursos para continuarmos vivendo nossa "vidinha" de sempre, cumprindo
tarefas, reproduzindo chavões, nos conformando com a repetição dos padrões de
vida que nos são vendidos como "ideais". A educação pode ser uma
aventura humana extraordinária na qual nos acompanhamos uns aos outros, em experiências
de troca, abertura ao outro e invenção de melhores maneiras de viver, dando
sentido ao fato de estarmos vivos. O quanto as tecnologias ajudam ou atrapalham
nessa aventura é uma pergunta que estamos desafiados a responder, diariamente e
para sempre.
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